Extremos
 
COLUNISTA AGNALDO GOMES
 
Alasca, enquanto a montanha não vem!
 
texto: Agnaldo Gomes
15 de junho de 2015 - 10:00
 

A bela trilha de bike em Anchorage e o dia chuvoso de caiaque oceânico. Foto: Agnaldo Gomes e Daniela Furusawa
 
  Karina Oliani

Ou melhor, enquanto eu não vou para montanha. Agora estou nos Estados Unidos em Anchorage no estado do Alasca e um dos motivos para eu estar aqui é tentar escalar o Monte Mckinley a montanha mais alta da América do Norte com 6.193 metros de altitude.

Sempre que parto para escalar alguma montanha procuro reservar um tempo para conhecer os arredores, geralmente os lugares são longe e tento tirar o máximo proveito das expedições.

Apesar de já ter viajado um bocado nunca estive nos Estados Unidos, aquele coisa que muita gente já deve ter pensado, um saco tirar o visto! Responder aquele questionário surreal, perder tempo indo aqui e acolá para conseguir o visto, mas enfim, uma hora o Mckinley me chamou e não deu para resistir.

Estou a 15 dias por aqui e sem ver a noite! Nunca fica escuro por completo, o por do sol começa lá pela meia noite e por umas três horas fica aquele céu alaranjado e depois o danado já começa a subir de novo, que saudades das estrelas! Dormir na barraca é um desafio, mas como sou bom de cama, deito e durmo, não tive uma noite de insônia por aqui. (falando nisto recomendo o filme Insônia que se passa no Alasca e mostra um pouco o que é não ter noite e como isto pode afetar as pessoas).

A viagem pré-expedição desta vez foi mais legal porque minha esposa conseguiu tirar férias e viemos juntos para cá. Nestas duas semana fizemos um pouco de tudo, é impressionante a quantidade de esportes ao ar livre que você pode praticar por aqui.

Na primeira semana deixamos para os programas mais “urbanos”: museu, compras de equipos, um cruzeirinho até as geleiras, conhecer uns glaciares, programas básicos mas muito divertidos. Depois disto, já me sentindo local, fomos para as trilhas. E nas trilhas tem aquele negocio de urso… todo lugar tem aviso de ficar alerta e você não pode deixar nada que tenha cheiro dentro do barraca, sabe aquela fome na madrugada onde você fuça na mochila e come um chocolate, esqueça, tudo precisa estar em um compartimento apropriado que você mesmo leva ou já existem em algumas áreas de acampamento, as lixeiras nos parques perto das trilhas tem um sistema de trava anti urso, eu demorei quase 40 minutos para descobrir como aquele troço abria... mas como eu já era quase local achei que isto era papo para impressionar turista, até o dia que vimos na beira da estrada um urso, bem perto de onde tinhamos feito uma trilha no dia anterior e no outro dia outro urso na estrada! Depois disto passei a levar o meu desodorante Avanço como spray contra urso! Este lance do urso é intrigante, se avistar um você não pode correr, tem que ir se afastando lentamente para trás mantendo contato visual e se ele vir em sua direção você tem que levantar os braços e tentar parecer maior que ele (Dani, japinha, baixinha, tava lascada para parecer maior que um urso, isto me tranquilizou pois sabia que eu não ia ser a primeira presa, hehe) e se não for o urso X e sim o Y ai você tem que deitar no chão encolhido, na dúvida eu treinei me afastar de costas encolhido no chão, vai saber.

     
     

Ai depois que você já está apavorado com este negocio de urso te dizem que ele não é o maior problema, o feroz mesmo é o Moose, animal um pouco mais baixo que um cavalo, com um chifrão enorme e ai não tem spray, ficar enrolado entoando mantras ou se afastar devagar ou rápido, o negocio é correr para a mata e torcer para o cifre enroscar em alguma árvore e vou dizer que vimos vários destes na beira das estradas também, mais do que ursos.

Falando de criaturas mais “amenas" vimos também baleias (orcas inclusive) leão marinho, foca (acho que era foca, mas podia ser um pato, o ângulo não era bom), marmota, castor, e outros que nem lembro. Resumindo, a natureza aqui é abundante !

As trilhas que fizemos não me encheram os olhos, fomos em dois parques nacionais, um deles o Denali onde está localizado o Monte Mckinley, mas arrisco a dizer que fico com nossa Mantiqueira, claro, o visual das montanhas nevadas é diferente e bacana, mas não sei não, ver um Agulhas Negras é duca. Nosso objetivo aqui eram trilhas curtas para curtir e deixar tempo para outras atividades e ai tem bike por exemplo e sair com a magrela é muito bacana. Na cidade mesmo tem um caminho de 50 km que vai margeando a costa de Anchorage e muito single track.

Deixamos um dia para caiaque oceânico também. Escolhemos o dia perfeito, chuva, temperatura perto dos 5 graus, vento e quase zero de visibilidade… mas entre não ir e ir com aquela gororoba de clima decidimos ir. Remamos no golfo do Alasca e foi muito bom! Mas sem o visual das montanhas nevadas em volta e no final com um frio pior que o de Jaguarão.

A melhor maneira de se locomover até os parques por aqui é alugar um carro, sai mais barato que o transporte coletivo e te dá mais mobilidade. As estradas são boas e o tráfico tranquilo, até o Parque Nacional do Denali por exemplo são 6 horas de viagem partindo de Anchorage.

A comida nos restaurantes é cara (e olha que eu moro em São Paulo) os hotéis idem, chegam a pedir 250 dólares a diária num hotel bem ruinzinho. Para ter uma idéia, agora que Dani foi embora, estou num hotel-espelunca-pulgueiro-total que além de outras amenidades tem um cheiro no quarto que tenho certeza que tem uma marmota no armário e arrisco dizer que ela não está viva… e estou pagando 100 dólares a diária. Mas também o verão é curto por aqui e o pessoal aproveita, ouvi dizer que no inverno os preços caem 70%, mas vir no inverno para cá deve ser porreta.

     
     

Agora tenho mais 5 dias por aqui antes de ir para montanha, em três dias chegam meus companheiros de escalada, vamos comprar comida e organizar o equipamento e ai começa uma outra viagem !

Namastê!
Agnaldo Gomes

 
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